O melhor episódio da 2º temporada de Ruptura.
Ruptura continua com seu padrão próprio de desenvolvimento, seguindo os episódios de forma não linear, isso aconteceu com o 1º episódio da temporada e agora com este 4º também. Ainda assim, não tira a qualidade e excelência do episódio.
Muita gente reclamou dessa forma, por não acompanhar os eventos do 3º episódio, que foram vários, mas principalmente pelo processo de reintegração do Mark.
Entendo a ansiedade e expectativa de ver a resolução do procedimento e como isso irá impactar no restante da temporada, mas isso aqui é Ruptura, e essa quebra de padrão faz parte da série, ao menos nessa 2º temporada. Isso não me incomodou, pelo contrário. Certamente o 5º episódio vai deixar esse 4º ainda melhor, pois foi o que aconteceu quando saiu o 2º episódio, deixou o 1º ainda melhor.
Sobre o Vale da Aflição (Woe ‘s Hollow) é um episódio totalmente diferente do que tivemos na série até agora. É um episódio sombrio, um episódio que causa muita estranheza e até susto. E o que mais o diferencia de todos os outros, parecia uma espécie de sonho. Embora não fosse um sonho, sabemos disso pelo final, mas a edição, a ambientação e o que foi tratado dentro deste episódio parecia indicar isso. Parecia um sonho lúcido, as transições dissolvem umas sobre as outras para simbolizar um estado de sonho. Genial.
Ruptura é mestre nisso. Indicar que está indo para um caminho, mas, na verdade, está pavimentando para outro. A ambientação lembrava o setor da Ruptura. Talvez por isso a localização em um ambiente predominantemente com neve. E logo vemos o Sr. Milchick explicando para a equipe a onde estão e do que aquilo se trata. Um retiro.
Claro, como se tudo fosse como a Lumon diz. Descobrimos que o Kier tinha um irmão gêmeo, o Dieter. E o episódio é quase um paralelo da história dos irmãos. Enquanto isso, o Irving enfrentava a Helly para desvendar aquela ponta solta que ficou do 1° episódio. O tal jardineiro noturno. Confesso que no 1° episódio da temporada, eu achava que era a Helly mesmo, e não a Helena como muitos afirmavam. Achei que só era vergonha e medo de dizer quem era.
No entanto, no 3° episódio ficou nítido que não era a Helly quem estava ali, mas sim a Helena. Pelo jeito que ela interagiu com o Irving, ele foi sacando e ligando tudo, e pelo momento em que eles voltaram a sala dos cabritos. A Helly sabia onde era, mas ela questionou ao Mark se ali era o local certo. A Helly saberia.
Agora vem o segundo melhor momento do episódio. Sr Milchick e a Sra Huang reúnem a equipe em uma fogueira. Então, ele continua a contar a história dos irmãos Eagan. Ao terminar, Helly tira um sarro e o Irving enfrenta ela mais um vez. Aí que o Irving confirma que aquela não era a Helly. Ela fiz que ele só estava daquele jeito porque estava solitário pois nunca mais iria ver o Burt. A Helly nunca iria dizer isso pra ele. Confirmado, não é ela. Só resta saber quem é, mas ele já estava a um passo disso.
Quando pesa o clima, cada um vai para um lado. Mark vai atrás da Helly/Helena na barraca dela. Em uma cena visualmente impecável tanto em beleza, como para a história, vemos os dois se pegando e a luz vermelha incidindo sobre eles. No primeiro momento, a luz só estava completa sob o Mark, na Helly servia como sombra.
O Mark estava expondo seus sentimentos e desejos, mas a Helena não sentia o mesmo que a Helly, mas depois já vemos ambos deitados, com a câmera focando só em metade do rosto e o vermelho, agora, cobre os dois. Só a metade deles estão ali, por causa da Ruptura e naquele momento a Helena já havia se entregue e se permitido sentir.
Um espetáculo!
E isso fica ainda mais potente com o contraste que é feito com o Irving. Ao mesmo tempo em que isso acontece, ele está perambulando pela floresta, um filtro mais azulado, naquele frio extremo, sozinho em busca de respostas. Mark e Helly/Helena estavam no calor dos seus sentimentos e desejos, enquanto Irving, sem o Burt, sozinho e tendo que lutar contra a correnteza em busca de respostas porque naquele momento, ele estava sozinho.
Quando vemos a confirmação da identidade da Helena pelo Burt em outro ótimo momento do episódio. Irv tem um sonho no qual ele está em uma outra floresta, mas vê a mesa do escritório da sua equipe ali. Ele se senta, vê o Burt na mesa ao lado e na outra mesa está a noiva de meio metro que foi mencionada na história do Kier e Dieter. Enquanto na tela do computador do Irv os números surgem, mudam e passam uma mensagem. Em um take da pra ver que alguns letras formam a palavra ‘EAGN’, quando aparece a noiva.
Com essa epifania, nesse sonho Irv liga todas as pontas e descobre a identidade da Helena. Primeiro jardineiro, ele foi o único a se importar porque sabia que era mentira e isso era importante, nos outros episódios ele notou total diferença e estranheza na sua interação com a Helly e no sonho a mensagem ficou clara. EAGN e uma mulher que trabalha com ele. Além de ter a inteligência de se questionar de que só alguém com muita influência poderia estar ali próprio na Ruptura. Então, ela só poderia ser uma Eagan.
Também vi muitas pessoas questionarem e afirmarem que foi facilidade do roteiro. Sim, se você não parar pra pensar e analisar como o Irving foi ligando todos os pontos até a confirmação no sonho, claro que vai entender que é facilidade. Mas, não é. Fez total sentimento e foi uma boa resolução.
E na melhor cena do episódio, Irving afoga a Helly forçando o Milchick a ceder e trazer a Helly de volta. Agora, mostrando a todos que não era a Helly, mas também revelou o primeiro nome dele, Seth. Isso certamente será importante, especialmente pela reintegração do Mark.
Assim como Dieter, Irving morreu ali, naquele vale. O sacrifício dele salvou a Helly, pois talvez ela poderia não voltar. Ele sempre ficou do lado e venerava a Lumon, mas com essa rede de mentiras, ele ficou do lado dos seus amigos. E lembrem-se, no início da temporada ele queria fazer isso pela dor de perder o Burt, mas não o fez porque Dylan o convenceu. Mas, agora ele fez pelos seus amigos. A dor e o peso desse momento é absurda.
Essa cena do início ao fim foi uma obra prima. Do Milchick falando para ele o que iria acontecer, ele foi mandando embora da Lumon, ele seria apagado como se nunca estivesse existido, enquanto o vemos no que parece uma paz na sua decisão e, talvez, de alguma forma, pensar que pode encontrar com o Burt novamente.
O episódio começou estranho, terminou pesado, dolorido. Um dos melhores episódios da série e certamente o melhor da temporada, até agora. Provavelmente ainda veremos mais do Irv, resta saber se ele volta ou se só veremos o externo dele. E as consequências da reintegração do Mark. Acredito que o Irv ainda terá muita importância na série.
