Thunderbolts*: Uma das melhores produções da Marvel pós Ultimato

Thunderbolts* é um filme que não sabíamos que precisávamos. 

 

Primeiro sem spoilers, depois vou destinar uma parte com spoilers e terá um aviso.

Quando foi anunciado, divulgado o elenco, a trama, na internet só lia uma coisa: “ninguém pediu esse filme” ou “ninguém se importa com esses personagens”. Passou pela fase de ignorar, não se importar até que ao sair o primeiro material promocional surgiu aquele ponto de interrogação “opa, será?”. 

Agente Americano, Fantasma e Yelena em Thunderbolts*

Bom, após assistir ao filme fica a menção de que todos que afirmaram as citações mencionadas acima, e muitas outras contra o filme internet afora, estavam completamente errados. 

Thunderbolts* é um respiro para Marvel e a esperança de que boas, ótimas produções possam surgir novamente como foram no passado recente. Porque quando a Marvel quer, ela consegue. Basta deixar de fazer filmes genéricos com briga de poder sem sentido e personagens tanto faz e descartáveis. Embora ainda conte com alguns problemas das produções do UCM, o filme consegue uma boa história, um lugar próprio, uma identidade, um coração. 

Esse é o ponto forte de Thunderbolts* possuir um coração. A união de personagens categorizados como anti-heróis ou na categoria B de heróis casou perfeitamente formando uma dinâmica muito interessante. Tem piadas, obviamente como padrão UCM, mas são boas piadas, há uma conexão mais emocional com os personagens porque todos passaram por algum tipo de trauma, a forma como foi mostrado nos conecta e nos faz se importar com cada um deles, principalmente com a Yelena e o Bob.

E isso é o coração do filme, toda essa carga dramática, um peso emocional absurdo, isso o diferencia sobre os outros filmes. Porque, na real, Thunderbolts* é um filme sobre depressão, sobre saúde mental. Os heróis são um plano de fundo para o que o filme quer contar. Desde a intro já estava claro a proposta e o peso desse filme, com a música da intro se desfazendo, apenas ficando sem cores, o silêncio, o vazio. 

Florence Pugh como Yelena em Thunderbolts*

Embora com seus momentos cômicos, engraçados, a carga emocional é muito forte com a primeira cena com a Yelena até ao final. Aqui, fica o destaque gigantesco para uma atuação muito intensa e forte da Florence Pugh. Ela é uma ótima atriz e todo mundo sabe, mas o que ela entregou aqui foi barbaridade. Dava pra sentir a dor, o peso do que ela estava sentindo. E Thunderbolts* sendo um filme sobre depressão aborda todas as sensações, o vazio, a solidão, a dor do luto, os traumas e de que não há lugar para você no mundo, apenas cinza, sem cores, sem perspectiva, vivendo apenas no automático.

A Florence consegue transmitir isso de uma forma sublime. Essa carga emocional foi o que me fez gostar demais, além de todas as coisas boas, porque é algo que só quem já passou por isso, ainda passa sabe o peso que é, a dor, o vazio. 

Atuação fantástica de Florence Pugh como Yelena em Thunderbolts*

Como equipe, Thunderbolts* funciona e muito. É a soma de desajeitados que juntos formam uma equipe muito massa. O primeiro encontro é muito maneiro porque todos saem na mão, depois disso vai se construindo de forma natural e orgânica toda essa relação como equipe, o roteiro conduz isso muito bem. Não é nada forçado, ou existe porque sim, não, é por isso que o faz uma das melhores produções desde Ultimato. Alexei (Guardião Vermelho) é o coração da equipe com um carisma absurdo, o John Walker (Agente Americano) sendo esse Capitão América B, rejeitado e chutado, um militar, babaca é sensacional, até a Ghost (Fantasma) vai muito bem e soma na dinâmica da equipe. 

Os Thunderbolts*

E o que falar do Bob? Lewis Pullman foi a maior surpresa do elenco. Que atuação sensacional! Ele e a Yelena são os personagens que mais tem esse tom dramático e os dois têm uma ótima química.

É um bom roteiro, é uma boa direção, isso graças ao Jake Schreier que foi diretor e roteirista de, uma das melhores séries dos últimos anos da Netflix, Treta (Beef). Dá pra ver que tem muito do diretor ali, ainda que o roteiro sofra com alguns problemas padrão Marvel, e essas produções fica claro que é dedo do produtor no filme, infelizmente, ainda que não estrague a experiência, mas fica esse adendo. 

Aproveitando vamos falar das partes negativas. O filme aborda uma questão política com um impeachment da Valentina Allegra de Fontaine, mas isso é abandonado no 2º ato do filme. Claramente uma demanda de produtor porque não estava dentro da parte principal, era uma tangente, apenas. Alguns diálogos expositivos me incomodaram também, mas pode ser subjetivo, pois esses diálogos servem para situar quem não viu as produções que os personagens estavam, quem são eles e o que fizeram. O que não deixa tão ruim é que é natural e não é forçado ou surge do nada como em outras produções.

A parte técnica que tem deixado a desejar nas produções recentes do UCM, também foi dada o devido valor, capricho e ficou muito boa. CGI muito bom, uma boa trilha sem parecer algo genérico, a ambientação ficou boa porque na proposta do filme o filtro mais azulado, o tom mais dessaturado faz mais sentido dentro do que ele quer passar, sem falar na direção que é muito boa. 

Thunderbolts*

No geral, Thunderbolts* é um ótimo filme da Marvel e uma esperança de coisas boas para o futuro. E quero ver mais dessa equipe e a dinâmica deles, é algo que não sabia que precisava e agora necessito. 

 

Agora, senta que vem spoilers.

Toda a construção do Bob, o seu background trazendo esse tom dramático para o personagem foi muito bem feito, especialmente levando o fator depressivo dele ser o antagonista do filme. O Void (ou Vazio) ser o vilão é genial! Porque é isso, a depressão é algo sério, algo que não dá pra derrotar, é uma força que joga contra você o tempo todo, é de fato um alter ego. A adaptação foi excelente. 

Assim como toda a força do Sentinela/Void é realmente o personagem mais forte da Marvel atualmente. Sem falar no visual que ficou espetacular. Tanto do Sentinela quanto do Void. Este ficou extremamente assustador, imponente. Mandaram bem!

Vazio em Thunderbolts*

Toda a construção da equipe e a sua jornada criou algo além do fator sobrevivência para ficarem juntos, eles realmente se tornaram uma equipe. E eles estenderam as mãos para o Bob, o acolheram e só assim é possível conter uma depressão. Uma rede de apoio, pessoas que se importam ao seu lado, pessoas que trazem o lado bom das coisas para sua vida. Foi para um lugar que não imaginava, mas é uma jornada que valeu muito a pena.

Algo que faltava nos filmes da Marvel era a preocupação do herói com as pessoas, então ver eles salvando as pessoas nas ruas foi incrível. O reconhecimento que receberam pelo ato heróico. É algo simples, mas é o que faz o herói ser, de fato, um herói. 

E claro que a Valentina aproveitou esse momento e proporcionou a maior surpresa do filme. Thunderbolts* na verdade são Os Novos Vingadores.

Essa sacada foi sensacional. Soa quase como uma sátira, tanto que o Alexei (Guardião Vermelho) tira sarro com isso usando o nome ‘Avengersz’, com ‘z’ no final. No entanto, faz muito sentido eles serem essa escolha porque realmente não tem mais Vingadores e a ponta que o filme faz para o futuro, especialmente para Quarteto Fantástico na cena pós-crédito, é que realmente precisa dessa equipe. 

Thunderbolts*
Thunderbolts*

Quando foi anunciado o casting de Doomsday fiquei surpreso e curioso ao ver praticamente todo elenco de Thunderbolts* lá, mas agora, após o filme, faz sentido e fico contente porque quero ver muito mais da dinâmica dessa equipe. 

Ah, os uniformes são realmente uniformes, sem nanotecnologia, sem todas aquelas firulas recentes fazendo tudo igual. Isso faz diferença e eles ficaram ótimos.

É um dos melhores filmes pós-ultimato, se não for melhor, e trás uma boa esperança para o futuro da Marvel.

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